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o “Reference Class Forecasting” como parte do processo de avaliação de projetos de transporte
de grande porte. O primeiro passo foi a coleta de dados dos custos iniciais e finais de centenas
de projetos, separados em categorias, cujos os riscos de aumentos de custos eram similares. Por
exemplo, para transporte ferroviário foram colhidos dados de 46 projetos, formando uma classe de
referência. Esses resultados foram utilizados para estabelecer a curva de distribuição de probabilidade
de aumentos de custos mostrada a seguir (FLYVBJERG, 2006).
Figura 1: Distribuição de probabilidade para aumentos de custos em vias férreas (Adaptado de FLYVBJERG, 2006)
Analisando a distribuição de aumentos de custos (Figura 1), é possível verificar, por exemplo,
que metade dos empreendimentos constantes na classe de referência “ferrovias” do Reino Unido
apresentou aumentos de custos de no máximo 40% em relação ao previsto inicialmente no orçamento
e a outra metade excedeu mais de 40% a previsão inicial. Constata-se ainda que 80% das ferrovias
foram concluídas com aumentos de custo de no máximo 60%, ou seja, que os 20% restantes dos
empreendimentos terminaram com aumentos de custos maiores que 60%.
Com base na distribuição de probabilidade e no risco aceito pelo empreendedor, o custo estimado
do projeto é ajustado (majorado) para fins de análises de viabilidade e de avaliação de disponibilidade
orçamentaria. O grau de majoração depende do apetite aos riscos. O conceito de apetite ao risco pode ser
entendido como o desejo de alguém assumir riscos versus o potencial de retorno. Para uma organização
(estado ou iniciativa privada) que tem um apetite de risco moderado, ou seja, não está disposta a perder,
com frequência, parte de seus recursos com eventuais aumentos de custos e quedas nas receitas, é
aconselhável considerar a faixa de segurança de 80% para suas análises de viabilidade. Assim, a
probabilidade de os custos estimados (ajustados) serem superados ao longo do tempo é de apenas
20%. Ou seja, apenas 2 projetos a cada 10 custarão mais do que o valor considerado no momento da
tomada de decisão. Já se a organização adotar a faixa de 50%, cerca de 5 a cada 10 projetos executados,
provavelmente, custarão mais do que o estimado no momento da análise de viabilidade, podendo implicar
que o seu “capital” ao invés de aumentar, diminua após a execução do projeto.
De acordo com Flyvbjerg (2006), o Departamento de Transporte do Reino Unido tem usualmente
adotado a faixa de 80% de segurança para ajuste dos custos estimados dos projetos no momento de
tomada de decisão de grandes investimentos em infraestrutura de transporte.
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