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contabilizados ao término dos empreendimentos e Recentemente, o estudo intitulado de
os custos estimados foram apropriados a partir do “O desvio de custos e de tempo de execução
momento da decisão de construir. Todos os custos nas obras públicas em Portugal” (COSTA,
foram calculados numa mesma moeda, usando índices 2012) analisou uma amostra de 164 projetos
históricos de taxas de câmbio e outros mecanismos de com dados financeiros e 60 com dados de
avaliação estatística de dados. execução temporal, compreendidos entre
os anos de 1999 a 2011. As principais
A pesquisa citada constatou que as estimativas
de custos utilizadas no processo de tomada de decisão conclusões foram que os projetos de obras
a respeito da implementação de empreendimentos púbicas portuguesas têm os seus custos
eram sistematicamente subestimadas. A análise subestimados em 32% e que o seu tempo
mostrou, com alta significância estatística, que os de execução corresponde ao dobro do tempo
custos foram subestimados em cerca de 90% dos previsto. Embora não tenha sido realizado um
projetos de infraestrutura de transporte. Os resultados estudo econométrico, a pesquisa apontou
demonstraram que os custos finais foram 45% uma correlação entre os anos de eleição
superiores aos estimados para ferrovias, 34% para (1999, 2002, 2005 e 2009) e os aumentos de
pontes e túneis e 20% para rodovias. De forma geral, custos de obras públicas portuguesas.
os custos finais foram 28% superiores aos previstos.
A subestimativa dos custos no momento de decisão de 3. ENTENDENDO AS
construir foi notada em 20 nações espalhadas por 5
continentes, indicando ser um fenômeno global. CAUSAS DE FALHAS NAS
Com base nesses resultados, Flyvbjerg, ESTIMATIVAS
Holm e Buhl (2002) concluíram que as estimativas
de custos utilizadas nos processos de tomada Quais são as reais causas para tantas
de decisão para implementação de projetos de distorções nas estimativas iniciais de custo-
infraestrutura de transporte são sistematicamente benefício de obras de grande porte?
enganosas. Da mesma forma, são as análises de Vários fatores são tradicionalmente
custo-benefício, visto que elas são baseadas nas utilizados como desculpas para justificar
estimativas de custos para calcular a viabilidade e fracassos de desempenho de projetos
ranquear os projetos. Ou seja, se as estimativas dos de grande porte, como por exemplo,
estudos são imprecisas, com certeza as análises de “imprevistos aconteceram”, “o projeto era
viabilidade também o serão. Por fim, enfatizaram que muito complexo”, “o escopo foi alterado”,
as conclusões não poderiam ser interpretadas como “a demanda não se concretizou”, “o cenário
um ataque sobre investimentos públicos versus econômico mudou”, “as características
investimentos privados em infraestrutura, pois os geológicas se mostraram desfavoráveis”,
dados analisados eram insuficientes para avaliar se etc. Não existe dúvida que estes fatores
projetos privados apresentavam dados piores ou podem afetar de uma forma ou outra o
melhores do que os públicos. Alertaram também que desempenho do empreendimento. Porém,
as conclusões não atacavam os investimentos em eles não constituem a causa raiz de tantas
transporte, visto que outros projetos de grande porte falhas de planejamento. A causa raiz parece
indicavam ser sensíveis também a subestimativas de ser a desconsideração deliberada ou não
custos no processo de decisão. destes riscos durante a tomada de decisão.
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