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De acordo com Flyvbjerg et al. (2011), as exageram nos benefícios e subestimam os
explicações “técnicas” defendem que a falta de acurácia custos de modo a aumentar a probabilidade
nas estimativas decorreria da utilização de dados não de que seus projetos obtenham aprovação
confiáveis ou desatualizados, de modelos de previsão ou recebam recursos (FLYVBJERG, HOLM E
inapropriados, bem como de falta de experiência dos BUHL, 2002).
planejadores. Todavia, se essa fosse a causa real para Bent Flyvbjerg, Professor da
os erros de estimativas, seria esperada uma distribuição Universidade de Oxford, no artigo
normal de erros com média próxima a zero, ou seja, “Survival of the unfittest: why the worst
uma certa equivalência entre sub e superestimativas. infrastructure gets built—and what we can
Como mostrado anteriormente, as estimativas são do about it” (2009), afirma que planejadores
majoritariamente inferiores aos custos finais, mostrando deliberadamente ampliam os cenários de
que o problema não é de acurácia. Segundo, se sucesso e encobrem os riscos de fracasso.
a imperfeição dos dados e modelos fosse a razão Nesse contexto, se definirmos mentira como
principal, seria esperado uma melhora da acurácia ao uma declaração feita para enganar os outros,
longo do tempo em virtude do avanço das técnicas vemos que deturpação deliberada de custos
de gerenciamento de projeto, o que não foi notado ao e benefícios é uma mentira. De acordo com
longo de um período histórico de 70 anos examinados essa explicação, onde há pressão política,
na pesquisa. Isso indica que outros fatores que não há deturpação estratégica.
dados pobres e modelos incorretos são os verdadeiros
responsáveis pelas falhas de estimativas de custos Em alguns casos a deturpação
e benefícios. Ainda de acordo com pesquisadores estratégica pode ser motivada por atos
supracitados, teorias psicológicas e políticas explicariam de corrupção e fraude, a exemplo, do
melhor os problemas de falhas nas estimativas. pagamento de suborno a gestores públicos
por partes interessadas na implantação de
As explicações psicológicas relacionam os um determinado projeto. Segundo a OECD,
erros nas estimativas de custo-benefício em termos no trabalho “Bribery in Public Procurement
do que os psicólogos chamam de viés do otimismo. – Methods, Actors and Counter-Measures”,
Esse viés é uma predisposição cognitiva no sentido as contratações públicas são desenvolvidas
de julgar os impactos de eventos futuros de uma a partir de um processo complexo e longo
forma mais favorável, positiva, do que o demonstrado que pode durar muitos anos, passando por
pelas experiências anteriores e atuais. As pessoas, muitos estágios desde a concepção, projeto
de forma não intencional, vislumbram cenários de até a fruição. O problema é que um ato de
sucesso e subestimam o potencial de erros. Como suborno pode ocorrer em qualquer estágio
resultado, se torna improvável que os projetos sejam ao longo deste caminho, desde os passos
entregues nos prazos e custos previstos, ou que mais iniciais até o processo de contratação e
proporcionem os benefícios esperados (FLYVBJERG, execução (OECD, 2007). Quando o suborno
HOLM E BUHL, 2002).
ocorre muito cedo, as decisões sobre investir,
As explicações políticas, por outro lado, embora maculadas, projetam uma aparente
explicam a falta de acurácia em termos de deturpação imagem de legitimidade. Desta forma,
estratégica (apresentação falsa de dados de forma devido à corrupção, muitas obras inviáveis
deliberada). Isso ocorre quando os responsáveis pelas são implantadas, independente do real
estimativas e gestores de modo intencional e estratégico interesse público.
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