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a partir de  2013.  No caso  do segmento  “Barreiras-  6. CONSIDERAÇÕES
                  Caetité”, a situação era ainda mais grave, com vários
                  trechos com traçado indefinido e não desapropriados.  FINAIS E PROPOSTAS

                        Foi constado, além da existência de             A literatura especializada internacional
                  cronogramas fictícios, que o principal produto a  e exemplos práticos nacionais demonstram
                  ser transportado pela ferrovia, o minério de ferro,  que os custos-benefícios estimados no

                  responsável por mais de 94% da demanda inicial   processo de tomada de decisão sobre
                  prevista no estudo de viabilidade, encontrava-se   investimentos em obras de infraestrutura de
                  num cenário de forte desvalorização, implicando   grande porte são, sistematicamente, pouco
                  em revisão dos planos de investimentos das      realistas. Assim, de forma rotineira, os
                  mineradoras da região. Consequentemente, tal    custos finais aos cofres públicos superam
                  situação implica no risco significativo de redução   significativamente os custos estimados nos
                                                                  estudos de viabilidade, em contraste com
                  de demanda de transporte de minério (demanda    os benefícios que despencam, reduzindo a
                  esta utilizada como maior justificativa para a   viabilidade de empreendimentos.
                  própria existência do empreendimento). No
                  entanto, essas e outras alterações das premissas      Ao   contrário  das   desculpas
                  do estudo de viabilidade não estavam sendo      usuais, as causas reais de fracassos de
                  monitoradas e tratadas pelo governo. Desse modo,   desempenho de  projetos  não  podem  ser
                  a auditoria apontou que não era possível assegurar   atribuídas a eventos imprevistos, e sim, a
                                                                  ausência de análises de viabilidade (custo-
                  a manutenção da viabilidade da ferrovia ou de   benefício) minimamente consistentes, a
                  alguns de seus trechos. Ou seja, não existia real   não identificação e tratamento de riscos,
                  comprovação  que  os  benefícios  provenientes  da   a excesso de otimismo no planejamento
                  implantação da estrada de ferro superariam os   e, de forma mais grave, a deturpação
                  seus custos, podendo sua implantação causar um   estratégica  de  informações  utilizadas
                  rombo bilionário aos cofres públicos.           durante o processo de tomada de decisão

                        Considerando os expressivos atrasos na    sobre investir ou não.
                  entrega da obra, a queda do preço do minério de ferro,   Uma forma de melhorar a estimativas
                  o aumento da taxa de juros e o contingenciamento  dos estudos de viabilidade seria a
                  de recursos, o TCU entendeu que era necessária  suplementação das avalições tradicionais

                  uma  avaliação  da  manutenção da  viabilidade  do   com uma análise de risco empírica que
                  empreendimento. Desta forma, recomendou, por    considerasse os resultados anteriores de
                  meio do Acórdão 2644/2015-Plenário, ao governo   projetos similares, a exemplo do prescrito
                  que reavaliasse a relação custo-benefício da FIOL,   no método  “Reference Class Forecasting”.
                  considerando ao menos 4 alternativas que iam    Para análises de viabilidade mais próximas
                                                                  da realidade, as estimativas de custo de um
                  desde a conclusão parcial (trechos operacionais)   determinado projeto deveriam contabilizar
                  até  a  conclusão  integral  do  empreendimento.   o histórico de projetos passados similares,
                  Além disso, recomendou a realização de estudos   corrigindo, quando fosse o caso,
                  com a identificação, avaliação e o tratamento   orçamentos afetados pelo viés otimista. O
                  dos riscos do empreendimento e a instituição de   empreendimento somente seria considerado
                  mecanismo de monitoramento dos benefícios e     viável se os benefícios superassem os
                  custos da ferrovia.                             custos estimados corrigidos.


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